Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2025 - 14h04

Alexandre Nicolini diz que diploma ameaça virar commodity

Especialista alerta que estudante “acha que pode trocar de faculdade como se troca de operadora de celular”

O especialista em gestão acadêmica e avaliação do ensino superior, Alexandre Nicolini, analisou nesta segunda-feira (13) por que as instituições de ensino superior têm registrado mais evasão do que captação, destacando a guerra de preços como “destruidora de valor no ensino universitário”.
 

“A matrícula de alunos evolui num ritmo menor que a evasão há quase 15 anos, e metade da captação está indo para a EAD.  Nós passamos de 2.182.229 ingressantes em 2010 para 4.993.992 em 2023, alta de 128,8% na captação, ainda que nem de longe o número de IES tenha aumentado na mesma proporção. Entretanto, houve um desbalanço na divisão dos novos estudantes: eles progressivamente seguiram para a EAD, onde menos de 10 grupos educacionais garantem posição dominante sobre os demais”, afirmou Nicolini.
 

Ele destaca, porém, que o número de concluintes cresceu apenas 40,7% no mesmo período, passando de 973.839 para 1.370.536. “Aumentamos em 128,8% a captação e em 299,8% a evasão. Mesmo considerando o descompasso ingressante/concluinte, é como se perdêssemos dois de cada três estudantes que heroicamente matriculamos para nossas IES. Acompanhá-los durante o curso exige mais do que comemorar a matrícula. Como eu sempre digo: o marketing capta, mas só um bom projeto pedagógico retém”, disse Nicolini.
 

Segundo o especialista, “o que mais preocupa agora é a taxa de sucesso (concluintes sobre ingressantes), pois se antes os que conseguiam concluir sua graduação eram 44,6%, em 2023 caíram para 27,4%. Ou seja, quase três em cada quatro estudantes não terminam o seu curso, mesmo em IES que se vendem como inovadoras, prometendo ensino diferenciado e mudança de vida para os ingressantes”.
 

Alexandre Nicolini ressalta em sua análise que, como alguns estudos já demonstraram, uma parcela dos evadidos volta ao ensino superior, mas em outros cursos e IES. “O estudante se transfere e ainda consegue desconto para onde está indo. E pode ser que esse movimento já tenha virado tendência, pois o aluno acha que trocar de faculdade é como trocar de operadora do celular. É o que acontece se o diploma vira commodity. Ou seja, está na hora de as IES investirem na experiência de ensino e identificarem com mais cuidado os nichos onde poderão se proteger”, conclui o especialista.
 

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